Monday, January 8, 2007

Minha primeira vez no telesexo

O anúncio era bem claro nesse sentido: «Precisa-se de atendentes com boa voz.»

Minha voz sempre foi muito elogiada, principalmente ao telefone. «Você tem uma voz muito sexy.» - era o que sempre me diziam, apesar de no fundo eu não estar convencida disso. Mas como eu não era fanha, gaga, nem tinha a voz de um pato rouco, resolvi arriscar e marcar uma entrevista. Como o meu currículo já tinha sido distribuído por toda a cidade mesmo, não me custava nada fazer outra tentativa.

Entretanto - santa ingenuidade - eu ainda não sabia que aquilo era um sexphone. Cheguei naquele prédio cinzento, subi o elevador e fui para aquele escritório minúsculo, apesar de bem localizado numa das zonas mais nobres da cidade. A campainha não funcionava, e só depois que fui perceber que era proposital, para não interromper o atendimento das meninas.

Entrei pelo pequeno corredor e vi uma sala com quatro cabines e uma mesa na frente. Não tive tempo de observar o ambiente, porque fui logo conduzida para uma outra sala, ainda com menor espaço, mas aparentemente mais aconchegante, com uma ampla janela com vista para o mar.

O mobiliário era simples: uma mesa cheia de papéis, um computador 486, cadeira preta num estilo de imitação barata a couro, canetas, uma tv com vídeo pendurados na parede, dois telefones e um fax. Sentei-me numa das cadeiras de braço de alumínio que estavam na frente do meu entrevistador, que ainda não sabia que seria o meu chefe.

- Pegue esse telefone. - ele indicou. - Agora leia esse papel que está aí na sua frente, de forma bem calma.

Era um texto comum, talvez até escrito por ele, mas sem qualquer pornografia.

- Você está aprovada. - ele me disse, depois que eu segui suas instruções.

Fiquei meio encabulada. A maioria dos empregos que procurava me diziam: «Em breve telefonamos para dar uma resposta» e ali eu já estava aprovada. O que isso significaria?

Foi então que ele me revelou que aquilo era um sexphone. Antes que eu pudesse fazer perguntas ou ficar chocada, ele explicou-me tudo como funcionava, e enfatizou que o sexo era apenas por telefone, não havendo nunca nenhum tipo de contacto físico.

E na verdade, isso nem seria aconselhável. No sexphone trabalhamos muito com a fantasia. Seria muito perigoso misturar fantasia com realidade.

Algumas horas depois, naquela mesma manhã, começaria o meu primeiro dia de trabalho. O chefe apresentou-me o gerente, que ficaria naquela primeira sala, naquela mesa central, onde ele podia ouvir as nossas conversas e dar orientações caso necessário. O gerente do meu turno era um homem de cerca de 28 anos, muito simpático, apesar de muito atirado às meninas ( sem nunca ter conseguido algo com qualquer uma delas ).

A primeira coisa que ele me forneceu foi uma lista de palavrões.

«Tenta sempre dizer o maior número de palavrões possíveis quando for atender um cliente. Se ele te liga, é porque quer muita sacanagem, não quer conversar com uma freira.»

Meu primeiro atendimento foi pavoroso, apesar de ter me saído bem. Na metade do tempo eu já tinha as mãos trêmulas e geladas, e logo vieram me trazer um copo de água com açúcar. Já estavam habituados com essa situação quando se tratavam de iniciantes.

Eu não sabia nada de sexo nessa altura. Havia tido relações sexuais com apenas dois parceiros, e minha especialidade, digamos assim, era no máximo um “papai-mamãe”.

O “telesexo” que me forneceu uma bagagem teórica de tudo o que pode ser imaginável e inimaginável. Foi lá que assisti os primeiros vídeos eróticos-pornográficos da minha vida. Bom, teve um em que eu tive que sair correndo para vomitar, mas eram ossos do ofício.

Só com o passar do tempo que fui percebendo melhor o que era trabalhar numa linha erótica, e inclusive na importância do “telesexo” para algumas pessoas.

Algumas pessoas fora do meio com quem eu falo sobre o assunto duvidam que o sexphone resulte. Eu, até entrar naquele emprego, talvez também duvidasse. Mas quando fui percebendo que os mesmos clientes ligavam de volta a procurar por mim que eu fui tendo consciência do que acontecia.

Algumas pessoas precisam ser estimuladas de alguma forma, seja com a voz, com as palavras, com o encorajamento. E sendo um atendimento apenas telefônico, não sentiam que estavam a trair ninguém.

Além de aprender a usar a minha voz de maneira a excitar um homem, também aprendi muitas coisas no “telesexo”. Aprendi inclusive a respeitar a fantasia alheia, e a saber conduzir um homem ou mulher para que se sinta satisfeito(a). A voz é de certeza um factor predominante. A atendente deve ter uma voz muito sensual. Mas a conversa deve ser cativa e estimulante, e, em pequenos detalhes por vezes fornecidos, ela deve perceber o que a pessoa do outro lado espera que ela faça.

Toda a descrição do ambiente deve ser respeitada. Fazer sexo por telefone é sentir-se verdadeiramente presente com a pessoa que atende. Não adianta o homem dizer que está comendo o seu cu e de repente, quando ele começa a gemer, você dizer que ele está gozando na sua boca.

Existem vários tipos de atendimento, desde os mais simples como as simulações de sexo, até aos atendimentos de dominação.

O atendimento por sexphone, portanto, consiste principalmente na realização de fantasias. Muitas vezes, algumas pessoas procuram um sexphone porque gostariam de se libertar, mas talvez não teriam coragem de realizar-se com seus companheiros. Encontram assim, no sexphone, a compreensão desejada por alguém que vai saber estimular sua fantasia, sem, de forma alguma, estar a trair seus cônjuges. Porque o grande diferencial do sexphone, como eu citei, é não haver qualquer tipo de contacto físico; as fantasias se limitam por ali, no atendimento telefónico. Não quer dizer que a atendente, em sua vida pessoal, realize aquelas fantasias, e nem mesmo que as pessoas que ligam também as façam ao vivo.

Mas não ligam pessoas só interessadas no sexo. Muitas ligam para conversar ou mesmo pedir opiniões. Existem muitas pessoas sozinhas no mundo, que por vezes só precisam de uma palavra amiga de alguém que não esteja envolvida no seu meio.

Quanto mais eu era solicitada, mais aquele trabalho me dava gosto. Passei inclusive a fazer sexo por telefone com o meu namorado, apesar de não ser a mesma coisa, porque o grande desafio é também ter o tempo um tanto limitado.

E limitações também existem no sexphone. Por exemplo, se tivermos uma leve suspeita de que a pessoa do outro lado seja menor de idade, somos orientadas a desligar o telefone na hora.

Hoje existem até sexphones que utilizam webcam. Eu chamaria mais de “sexvideo”. Apesar de ser uma outra forma de estimular o desejo à distância, minha especialidade é no atendimento apenas telefónico, porque foi para isso que eu fui treinada.

Porque quando é apenas através do telefone, é possível estimular a imaginação. É possível viajar, ter a pessoa bem ali, do jeito e da forma que deseja. Posso ser alta ou baixa, posso ser loira, morena ou mulata. Posso ser do jeito que a pessoa do outro lado da linha quiser. Não me verá na minha cama, mas na cama dele, ou em qualquer outro ambiente que fantasie.

Posso ser a gatinha, a felina ou a rainha. Assim como ele pode ser meu amante, meu companheiro, meu capacho ou meu escravo. O atendimento no sexphone consiste, portanto, em estar os dois ali, naquele ambiente de fantasia, cuja realização é o auge do momento.

Ainda hoje, vez ou outra, ainda exercito a atendente de sexphone, para não deixá-la adormecida. É uma delícia masturbar-me sabendo que uma pessoa do outro lado da linha me estimula, ou falar com uma pessoa no telefone e saber que ela está se masturbando para mim.

Deve ser o meu lado escorpionino, que adora explorar a sedução nas mais diversas formas.